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17 de November de 2022

Palestra 22/11/2022, terça-feira às 16h – Cinemateca do MAM

Não há um modo neutro, puro e selvagem da sensibilidade. Aquilo que podemos perceber faz parte de um ritual que se expressa através de aparelhos. Com a emergência da fotografia, no século XIX, as condições do sensível se repartiram numa cartografia que se distribuía na superfície do corpo (fotografia, fonógrafo, máquina de escrever, cinema). Com o devir algorítmico, essa repartição “democrática” do mundo encontra um princípio de expressão imperial e global: tudo o que aparece e tudo o que podemos imaginar é efeito de um único e mesmo cálculo. Estamos hoje num sítio de imagens (imagens legíveis, imagens sonoras, imagens visuais, imagens audiovisuais) que, porém, são o efeito de um único princípio paranoide. Esse princípio é um modo de produzir as condições de uma sensibilidade controlada. O tempo como instante (tempo da obediência) e a imediatez (o cancelamento da mediação como vínculo político) configuram a colonização do imaginário no mundo global. Para produzir um deslocamento dessa sensibilidade globalizada temos que interromper o ritual e produzir uma suspensão dos cálculos. Temos de produzir o imprevisível, o inaudível, o não legível dos programas. Isso poderia ser a tarefa política das artes.